Daí você se mantem de boa por longas semanas. Parece
até uma pessoa equilibrada. Mas aquilo que te corrói
continua lá dentro, a princípio você pensa ser algo
inofensivo e pequeno, mas independente de você
alimentar ou não a coisa continua a crescer. Em
algumas temporadas cresce devagar, de leve, quase de
forma imperceptível. Ai de repente quando você se dá
conta a coisa tá grande, gigantesca e quer sair de
alguma forma. Pra alguns a escrita ajuda a aliviar, pra
outros o álcool ou o sexo. Eu ainda tô procurando o que
me ajude a aliviar. Mas tem dias que a coisa fica maior
que eu e quer me engolir. Tem os que chamam isso de
vazio. A sensação que tenho não é de um vazio, é de um
‘cheio’. Sensação de coisa cheia que quer transbordar e
que não dá pra controlar. Acho que a mente ocupada
com a agitação do dia a dia, trabalho, parentes, não
deixa que todos sintam essa coisa. E eu quando tô no
automático, não sinto muito e ando por ai de boa como
qualquer mortal, mas quando consigo tempo pra mim
ela vem implacável, talvez seja assim pra todo mundo...
talvez isso seja só ‘pulsão de vida’ como diria a
psicologia e eu só devesse me preocupar se não sentir
mais. Seja lá o que for, só sei que dói.
Acho que todas as coisas que as pessoas se apegam,
sejam tentativas de preencher o tempo e não deixar essa
coisa te alcançar. Os ‘normais’ se ocupam de casa,
família, trabalho, contas, igreja e pra maioria dá certo
afinal o mundo tá ai girando graças a essas pessoas.
Mas pra alguns isso não basta, é pouco, ainda falta.
Acho que seja por isso que alguns recorram as drogas,
a assassinatos em série, coleções de objetos e por ai
vai. "